Professor Tiago Lyra:
Licenciado em Português/Inglês pela Universidade Metropolitana de Santos/SP, professor há mais de 8 anos em cursos presenciais para concursos no Estado do Rio de Janeiro, Ex. AL Oficial da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Atualmente é servidor Público do RIOPREVIDÊNCIA (Fundo Único de Previdência Social do estado do Rio de Janeiro).
Conhecido pelos seus alunos em todo o Brasil por meio do BIZU DO LYRA que indica sempre uma dica importante para as provas de Língua Portuguesa das principais Bancas do país.Bacharelando em Direito na UCAM


CONCURSO NÃO SE FAZ PARA PASSAR, MAS ATÉ PASSAR!!

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Texto Utilizado Em Aula

Amor romântico na literatura infantil: uma questão de gênero - Primeira Parte - Prof. Suyan Maria Ferreira Pires

Um dos aspectos que caracteriza a contemporaneidade, também chamada de pós-modernidade, é um estado de permanente conflito na sociedade e nos laços entre e dentro de seus segmentos. Na verdade, a pós-modernidade não gerou essa crise; ela a herdou da Modernidade e a explicita em cores cada vez mais fortes. A pós-modernidade se constitui como uma crítica à modernidade, sem substituí-la, contudo. Nela convivem elementos do classicismo, da modernidade e da própria pós-modernidade, com sua dimensão de conflito permanente, sem que se forme um todo, sem que se integrem.

É ambíguo o momento em que vivemos. Por um lado experimentamos a satisfação de podermos modificar nosso mundo social, no qual novas identidades culturais e sociais surgem, enquanto outras já existentes são transgredidas, arrombadas, deliciosa ou sofridamente transformadas. Por outro lado, nosso tempo é de dor, de angústia, de incertezas, de um mundo à deriva. Uma parcela cada vez maior da humanidade é excluída dos prazeres e das alegrias da vida.

É época de primazia de mercado, de competitividade, de produção, de privatização e desregulamentação. Ao mesmo tempo é o momento de investidas na coletividade, no crescimento grupal, na valoração do trabalho em equipe. Do ponto de vista econômico, a pós-modernidade acompanhou e favoreceu um considerável empobrecimento geral e um aumento apreciável do número de excluídos dos bens e do bem viver em todo o mundo. Consumo é a palavra chave dessa nova era e os sujeitos se transformam em consumidores incessantes.

A pós-modernidade também adentrou o cotidiano da vida das pessoas através da tecnologia eletrônica de massa. Assim, os meios de comunicação aderiram à função de “interligar” o mundo às diferentes realidades, favorecendo, assim, a chamada globalização. Nessa linha de pensamento, Antonio Dória (2008, p. 30) afirma que nossa sociedade:
urbana e industrializada, defini-se pela competição acirrada. A competição
sempre existiu, mas o modo de produção atual e a conquista de mercados
tornaram esse fenômeno mais evidente. Hoje, fala-se de competição
até mesmo como algo positivo e necessário. E a industrialização traz
exigências como eficiência, rapidez, produção em série e, por extensão,
maior controle da natureza e do homem. Nesse contexto de eficiência,
a pausa, a interrupção, a dúvida, enfim, poderiam se tornar grandes
obstáculos.
Passamos a conviver com situações entendidas muitas vezes como naturais, mas que foram construídas e continuam sendo legitimadas como práticas sociais. Lançamos mão de conceitos novos, abandonamos concepções antigas, apreciamos ideias diferentes, tornamo-nos metamorfoses ambulantes neste mundo do aqui-e-agora. A problematização sobre a possibilidade de tais mudanças termina por propiciar a incerteza, a desconfiança em relação a situações consideradas certeiras, à reflexão sobre os argumentos ditos definitivos, permitindo-se assim que o sujeito situe-se na busca intermitente do novo, do diferente.

Percebemos a multiplicação concomitante de práticas sociais inusitadas, singulares, excêntricas, “censuráveis”, lamentosas que colocam na berlinda as “verdades” sociais vividas recentemente. Tal época, borbulha, efervesce, invade diferentes instâncias sociais ao mesmo tempo em que é produzida no âmago dessas. Sob essa perspectiva, pode-se verificar algumas
características concentradas nessa cultura instantânea como a busca do prazer imediato, o descompromisso com o outro, a tolerância ao diferente, a (des)construção e transgressão às regras, a violação dos corpos, a banalização de diferentes práticas e a realização de desejos efêmeros.

A representação visual torna-se objeto de fascínio. Cola-se a ela a ideia de produção de estímulos, de possibilidade de emoções, de contemplação de
cenas virtuais, fantásticas, delirantes, violentas, de forte apelo à sexualidade, tornando os sujeitos espectadores e produtores da realidade. Passa-se, portanto, a conviver com os fatos sociais cotidianos estáveis ao tempo de suas imagens.

E nessa sociedade em constante crise, com rupturas, com desconstruções das “verdades únicas” na qual
o controle social se exerce através das informações, da estetização, da personalização do cotidiano, questiono: ainda há espaço para o amor? Se há, de que amor estamos falando? De um amor romântico, repentino, perene? De um amor fugaz, abrasante, momentâneo? De um amor sereno, gentil, pacífico?
Na sociedade ocidental, esse sentimento é muito valorizado e o discurso que o circunda traz sempre a ideia de que “sem amor estamos amputados de nossa melhor parte. A vida pode até ser mais tranqüila e livre de dores quando não amamos. [...] Diante dele (do amor) tudo empalidece; sem ele, até o que engrandece perde a razão de ser” (COSTA, 1998, p. 11).

Dessa forma, quem ama procura um par, pois em todo amor há pelo menos dois seres envolvidos e, quando correspondido, pode ser estabelecida uma relação. A partir de então nota-se uma tênue fronteira entre o sentimento e a forma de gerenciá-lo, que comumente é implacável. Uma vez constituída essa relação, pode-se perceber o sentimento de amor dos apaixonados sendo vivido, abundantemente, com o desenrolar das situações. Nessas situações, as promessas de amor são menos ambíguas do que suas dádivas. Assim, a tentação de se apaixonar, tão divulgada e legitimada em nossa sociedade, é grande e poderosa, pois “aprendemos a crer que amar romanticamente é uma tarefa simples e ao alcance de qualquer pessoa razoavelmente adulta, madura, sem inibições afetivas ou impedimentos culturais” (COSTA, 1998, p. 35).

E está justamente aí a fragilidade do amor, a qual se ocupa em suportar a vulnerabilidade das relações entre os amantes. Ora, se o amor exprime a vontade de cuidar e de preservar o objeto cuidado, como pode tal relação subjugar os parceiros nela envolvidos?

Talvez, de modo incomum, em um mundo obcecado pela segurança, os apaixonados exigem do sentimento de amor uma estabilidade pouco possível de ser concretizada. Dessa forma, a atração, o desafio e a sedução passam a ser elementos constitutivos das relações amorosas românticas. Pode-se citar, ainda, as promessas de compromisso a curto e longo prazo como características da materialização desse amor tornando-o excludente e possessivo, pois estar em um relacionamento significa, sobretudo, uma incerteza permanente. Percebe-se, então, um paradoxo: honrar com o compromisso acordado e o sentimento vivido sem tornar a realidade afrontosa e exasperante. A respeito disso Zygmunt Bauman (2004, p. 29) afirma que
se você investe numa relação, o lucro esperado é, em primeiro lugar e
acima de tudo, a segurança – em muitos sentidos: a proximidade da mão
amiga quando você mais precisa dela, o socorro na aflição, a companhia
na solidão, o apoio para sair de uma dificuldade, o consolo na derrota e o
aplauso na vitória; e também a gratificação que nos toma imediatamente
quando nos livramos de uma necessidade.
Sendo assim, se pode dizer que faz parte do discurso do amor romântico promulgar formas que derrotem fontes de incertezas presentes – garantindo assim a segurança – até porque não se sabe o que está pela frente e o que o futuro pode trazer. Junto a essa luta está o esforço despendido pelos amantes a fim de que a relação seja profícua e duradoura, colando à imagem do sentimento amoroso a ideia de imortalidade.

Jane Felipe (2006, p. 11) caracteriza o amor “como romântico quando ele é regido por uma idealização que se estende aos seguintes aspectos: a idéia de intensidade (em si mesmo e no outro, para quem o amor se destina), a concepção de completude, de eternidade e de entrega”. Dessa forma, os enamorados exacerbam o sentimento de amor como se ele fosse o responsável pela felicidade eterna do parceiro e por sua exclusividade.

Comumente,
escuta-se em músicas, poesias, sonetos, conversas informais, que o outro é o motivo da sua vida, a razão da sua existência, que o sentido de um está na existência e na presença do outro. Assim sendo, há um empoderamento do sentimento amoroso como algo grandioso, mágico, que atravessa o tempo e o espaço com uma força intensa. Nesse sentido, percebe-se que o ponto nevrálgico paira na forma como o amor romântico é idealizado e materializado nas relações amorosas e não no sentimento em si.