Falei de esquisitices. Aqui está uma, que prova ao
mesmo tempo a capacidade política deste povo e a grande
observação dos seus legisladores. Refiro-me ao processo
4 eleitoral. Assisti a uma eleição que aqui se fez em fins de
novembro. Como em toda a parte, este povo andou em busca
da verdade eleitoral. Reformou muito e sempre; esbarrava-se,
7 porém, diante de vícios e paixões, que as leis não podem
eliminar. Vários processos foram experimentados, todos
deixados ao cabo de alguns anos. É curioso que alguns deles
10 coincidissem com os nossos de um e de outro mundo. Os
males não eram gerais, mas eram grandes. Havia eleições
boas e pacíficas, mas a violência, a corrupção e a fraude
13 inutilizavam em algumas partes as leis e os esforços leais dos
governos. Votos vendidos, votos inventados, votos destruídos,
era difícil alcançar que todas as eleições fossem puras e
16 seguras. Para a violência havia aqui uma classe de homens,
felizmente extinta, a que chamam pela língua do país,
kapangas ou kapengas. Eram esbirros particulares,
19 assalariados para amedrontar os eleitores e, quando fosse
preciso, quebrar as urnas e as cabeças. Às vezes quebravam
só as cabeças e metiam nas urnas maços de cédulas. Estas
22 cédulas eram depois apuradas com as outras, pela razão
especiosa de que mais valia atribuir a um candidato algum
pequeno saldo de votos que tirar-lhe os que deveras lhe foram
25 dados pela vontade soberana do país. A corrupção era menor
que a fraude; mas a fraude tinha todas as formas. Enfim,
muitos eleitores, tomados de susto ou de descrença, não
28 acudiam às urnas.
Machado de Assis. A semana. Obra completa, v. III.
Rio de Janeiro: Aguilar, 1973, p. 757
1- Em relação ao texto, assinale a opção incorreta.
A Após o termo “uma” (L.1), subentende-se a elipse da palavra
esquisitice.
B Caso a expressão “aqui se fez” (L.4) seja substituída por aqui
foi feita, prejudica-se a correção gramatical do período.
C Em “esbarrava-se” (L.6), o termo “se” indica indeterminação
do sujeito.
D O emprego da vírgula após “paixões” (L.7) justifica-se porque
a oração subseqüente é explicativa.
Comentário:
A letra “B” está errada porque apenas foi trocado o verbo da voz passiva sintética (ou pronominal-Pronome apassivador) para a voz passiva analítica, repare o tempo e o modo verbal de “fez” e “ foi” estão mantidos (pretérito perfeito do indicativo)!!
TÉCNICO TSE 2006 CESPE-UNB
1Uma sociedade democrática vive de suas clivagens,
que têm como fundamento o respeito ao pluralismo político.
Cada partido tem o direito de fazer suas próprias propostas,
4 procurando mostrar para a opinião pública a sua viabilidade,
a sua pertinência e a sua importância. Ela se alimenta,
também, dos consensos que consegue estabelecer sobre
7 algumas grandes questões nacionais, as que possibilitam
precisamente que o país adote uma rota de crescimento
econômico, desenvolvimento social e pleno respeito à
10 liberdade.
Idem, ibidem.
-Em relação ao texto acima, assinale a opção incorreta.
A A forma verbal “têm” (L.2) refere-se a “clivagens” (L.1).
B A palavra “clivagens” (L.1) está sendo empregada com o
sentido de convergências, uniões.
C O pronome “Ela” (L.5) refere-se a “sociedade
democrática” (L.1).
D O emprego de vírgula após “econômico” (L.9) justifica-se por
separar elementos de mesma função gramatical componentes
de uma enumeração.
Comentário:
A errada é a letra “B”, pois a palavra “clivagens” está com o sentido oposto do estabelecido em “convergências, uniões” ela tem no texto o valor de oposição. Consoante ao dicionário priberam da língua portuguesa a palavra em tela quer dizer Divisão ou Fragmentação, o que é facilmente percebido pelo contexto. Quando o autor diz “Cada partido tem o direito de fazer suas próprias propostas” demonstra diversidade de ideias e não união como diz a letra “B”